sábado, 20 de novembro de 2010

A EDUCAÇÃO AO ALCANCE DE POUCOS

Artigo: Livro de Jota Melo (jotadmelo@hotmail.com)

As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer que, no fundo,

elas são a maioria.(Paulo Freire)

Inúmeros estudantes pobres são obrigados a interromper seus estudos por razões da burocracia educacional: dificuldades em conciliar o trabalho e o estudo; o desinteresse político; frustradas tentativas no vestibular, em faculdades públicas. Quando conseguem passar no fantasma do vestibular, são necessários muito esforço e persistência para manterem a freqüência às aulas, visto que é preciso dispor de tempo para trabalhos, pesquisas, monografias, estágios, encontros educacionais e outras tarefas que tira o sono.

A filosofia das faculdades públicas deveria ser voltada para atender estudantes pobres, e não abrir brecha para a elite, considerando que os estudantes ricos ficam beneficiados. Normalmente, os estudantes ricos imigram de escolas particulares, em que tiveram o privilégio de freqüentar os melhores cursos, dispor de professores especializados e de participar das aulas de reforço e preparação para o vestibular. Depois dessa bateria de conhecimentos, eles procuram as faculdades públicas para concorrer a vagas limitadas com os estudantes pobres, os quais vieram do ensino público. Isso não é ilegal, mas é desleal, considerando que os estudantes pobres vieram de ensino público precário, repleto de turbulências, greves de professores, feriados e problemas afins. Quantas vezes os estudantes de escolas públicas precisam “bater em retirada”, com suas mochilas nas costas, de volta às suas casas, por conseqüência da irresponsabilidade daquelas pessoas sem compromisso com a educação?!

Outro fator irritante que acontece é a questão da transferência nas faculdades públicas. É um verdadeiro tropeço! Se o acadêmico não for persistente e não usar a sabedoria, possivelmente fica sem concluir os estudos: O aluno precisa pagar, em dinheiro, todas as disciplinas, histórico escolar, taxa de inscrição, taxa de transferência, declaração. Além disso, precisa esperar o edital que publica a disponibilidade de vagas. Na seqüência, é necessário solicitar por escrito o interesse da transferência, depois aguardar a boa vontade dos coordenadores para a chamada! Ora, que burocracia é essa! Se o acadêmico quer estudar, por que dificultar tanto? Que burocracia educacional!

Na verdade, as faculdades particulares não apresentam tamanha burocracia; quando se matricula mais um acadêmico, simplesmente coloca-se mais uma cadeira na sala. Exatamente assim que as faculdades públicas deveriam fazer, pois muitos acadêmicos estão desistindo dos estudos em conseqüência dessa coisa que se chama burocracia!

Seria interessante uma mudança nessa questão: os estudantes pobres poderiam discutir o assunto em reuniões com seus diretores, formar grupos estudantis, convidar pessoas bem relacionadas do segmento na sociedade, envolver políticos bem intencionados com a educação. Do contrário, o Brasil estará formando maior número de estudantes ricos para exercerem as melhores profissões, enquanto os estudantes pobres ficarão a ver navios. Com muita sorte, poderão ser proprietários de pequenos negócios nos fundos de quintais ou, ainda, aumentar o número de trabalhadores informais.

Se os teus projetos forem para um ano, semeia o grão. Se forem para dez anos, planta uma árvore. Se forem para cem anos, educa o povo, (Provérbio chinês).

Nenhum comentário:

Postar um comentário