sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

JOÃO BRASILEIRO


A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.

(Aristóteles)

João brasileiro é uma lenda viva, e sua história é semelhante à de milhões de patriotas que só querem sobreviver e oferecer o mínimo de conforto para a família neste país.

João veio de família muito pobre, por essa razão não tinha casa própria, Seu pai não tinha profissão e sua mãe lavava roupas para terceiros, para ajudar no orçamento do lar.

João Brasileiro, com nove anos de idade, já sabia o sabor da dureza da vida, trabalhava o dia todo e não escolhia serviço, trabalhava como vendedor de picolés, engraxate, lavador de carros e outros serviços que era compatível com sua condição física. João era determinado, pois sabia que precisava ajudar seus irmãos mais novos e colaborar com seus pais. João não esmorecia diante dos obstáculos!

João Brasileiro tinha planos futuros, sonhava como todos os brasileiros sonham! Sonhava com sua casa própria, ter um veiculo para trabalhar, constituir uma família e oferecer condições para seus filhos se formarem, enfim, ser uma pessoa bem sucedida na vida.

O tempo foi passando e João Brasileiro foi crescendo, mas, infelizmente, não conseguia conciliar o trabalho e os estudos, haja vista que seu trabalho lhe roubava todo o tempo em que deveria freqüentar a escola. Em conseqüência disso, muitas vezes, retornava à sua casa altas horas da noite, pois, durante o dia, trabalhava como entregador de medicamentos e vendedor de jornais, e, à noite, como vendedor de flores nos shopping centers e outros locais de eventos na Capital. João sabia que aquele esforço era necessário porque infelizmente não recebia nenhum benefício governamental. Na verdade, não foi falta de procurar se inscrever em algum dos programas sociais existentes, mas a burocracia política lhe atropelava! Nesse ritmo de vida, João Brasileiro foi sobrevivendo, driblando os obstáculos diários, como: a fome, a moradia, a saúde, a educação, e outros...

João brasileiro ficou adulto muito rápido, visto que sua infância foi preenchida pelo trabalho e responsabilidade que falavam mais alto. Sua contribuição em casa era de suma importância, ajudava na despesa diária com alimentação, pagamento de aluguel, impostos, taxas e contribuições governamentais. Com tudo isso João se preocupava, pois, se não pagasse a água, energia e aluguel, com certeza o fornecimento era interrompido e do barracão eram despejados! Mas João Brasileiro era muito responsável com seus compromissos, jamais falhava em relação aos pagamentos que lhe eram atribuídos.

João brasileiro já estava com 21 anos de idade, e, lamentavelmente, ainda não tinha conseguido realizar seus sonhos: casa própria e formação universitária. Mas ele não desistia! Com essa idade, conseguiu vencer a barreira da concorrência, empregou-se na função de auxiliar de produção numa micro-empresa, a qual tinha somente 100 metros quadrados de espaço físico. Depois de dois anos, conheceu uma moça que batia com seus princípios: De boa índole, boa família, humilde, honesta, trabalhadora, enfim, era uma moça exemplar! Então se casou e constituiu uma belíssima família, com dois filhos, um homem e uma mulher.

Como João Brasileiro sempre repudiou os vícios, em especial as drogas, cigarros e álcool, ele educou seus filhos sempre afastados desses malefícios. Na verdade, constituiu sua família com dignidade e modelo para o Brasil.

Mesmo com salário mínimo e meio que ganhava na empresa, João Brasileiro foi sustentando sua esposa e os dois filhos... João era querido pelo seu chefe, colegas de trabalho e pelo Diretor geral. Era um funcionário exemplar! Passou o tempo... E João Brasileiro permanecia na empresa, firme como uma rocha! Batia o ponto sempre 20 minutos antes do horário determinado; já na saída, era o contrário, trabalhava até mais tarde, pois a empresa necessitava de fazer o fechamento do dia, mas João jamais reclamou de cansaço, sempre muito fiel e responsável com seu trabalho!

Nesse ritmo, João Brasileiro trabalhou aproximadamente 30 anos... Então, nesse período, a empresa expandiu, construiu inúmeras filiais no território nacional, adquiriu uma frota invejável que, se porventura, colocasse em fila os caminhões e carretas, certamente ocupariam alguns quarteirões. Mesmo com o espantoso crescimento da empresa, João Brasileiro nunca foi promovido de cargo, jamais ganhou gratificação por produção, a empresa nunca ofereceu um plano de saúde ao João, jamais foi valorizado pela função que exercia, a não ser uns elogios esporádicos do chefe em reuniões de rotinas de final de mês. Quando a empresa já estava muito estruturada, os filhos dos proprietários, que possuíam uma boa fortuna, já estavam investindo parte do lucro da empresa no exterior. Era uma potência!

Um dia, os diretores da referida empresa resolveram aumentar ainda mais seus lucros. Então, chegaram à conclusão que a solução lógica seria a demissão dos funcionários antigos e, em contrapartida, a contratação de outros com salários mais baixos, de preferência, pessoas jovens, considerando que eles estão ansiosos para o primeiro emprego. Assim foi determinado, e, no dia seguinte, a lista dos demitidos foi afixada na parede bem próxima ao relógio de ponto da empresa. Para surpresa de João Brasileiro, lá estava o nome dele, em ordem alfabética, para ser dispensado naquele mês.

Para João, foi uma facada em seu coração! Ele viu desabar todos seus sonhos, em pensar que dedicou sua vida quase toda àquela empresa: ajudou a conquistar vitórias e construir mais filiais, bem como a encher o pátio da empresa de caminhões e carretas, e muito mais... Pensou também naquelas noites que passava trabalhando para ajudar a empresa a evitar gastos e adiantar o serviço. Pensou também que nunca recebeu advertência do diretor, pois sempre procurou cumprir todas as normas que a empresa estipulasse. Pensou nas vezes que trabalhou sentindo dores de cabeça, nas mãos.

Quando a sua mulher ganhou seus filhos, João não se deu ao luxo de falhar ao serviço, pois era daquela empresa que ele tirava o sustento para sua família e ainda pela responsabilidade que tinha com o serviço diário. Pensou quantas vezes defendeu aquela empresa de alguns comentários maldosos! Esses pensamentos confusos passavam na cabeça de João Brasileiro, como se fossem um filme que assistia, sentado naquela cadeira que lhe pertenceu durante esses longos anos de trabalho, naquele escritório! Ainda debruçado na mesa, pensou como faria para comprar aquela casa própria, aquele carro popular. A faculdade que não conseguiu freqüentar, realizar seu sonho de criança. Mas João Brasileiro não podia fazer mais nada, a não ser cumprir o aviso prévio e procurar receber o pouco dinheiro do acerto.

Mas, para completar a decepção de João Brasileiro, ao acertar com aquela empresa que ajudara a construir, a mesma não queria lhe pagar seus direitos, então foi necessário acertar no Ministério do Trabalho. Para dificultar ainda mais, João ganhou a causa, mas foi preciso dividir com seu advogado o restante do pouco dinheiro que sobrou, o qual recebeu em parcelas iguais, em longo período.

Aqui termina a história do João Brasileiro, o qual sempre procurou trilhar os melhores caminhos, bem como mostrou perseverança e muita responsabilidade; cumpriu metas e soube valorizar a empresa que trabalhou num período de trinta anos. É lamentável, mas casos semelhantes ao do João Brasileiro, infelizmente, há milhares de pessoas passando!!!

O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma. Não tenha medo de errar, pois você aprenderá a não cometer duas vezes o mesmo erro." (Franklin D. Roosevelt)

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